quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Série Marginalizados: Feroz


Quando começou a última década do Século XX, uma atmosfera de duvidas cobria o Planeta. Esperançosos viam na extinção do Regime Soviético e na intensificação da Globalização o advento de um Mundo melhor. Contudo, ao observar o desemprego gerado pela nova maneira de produção e pelas novas tecnologias, céticos apontavam um futuro apocalíptico. Previsões imprecisas e antagônicas proporcionavam um panorama de aguda incerteza.

É desse antagonismo que surgiu a figura pública de Hristo Stoichkov. Nascido no Leste Europeu no auge da Guerra Fria, o búlgaro acompanhou as mudanças de seu país. Viveu o auge da República Popular, a fragmentação da Cortina de Ferro e a ascensão da democracia. Em trinta anos, Hristo e seu povo presenciaram mudanças intensas.

Tal intensidade era trazida à tona toda vez que Stoichkov entrava em campo. Devido à sua entrega incondicional e à paixão que apresentava nas partidas, seu sucesso foi súbito. Seu rendimento unido ao temperamento explosivo tornou-no notório no Mundo do Futebol. A transferência para uma equipe do lado rico do Velho Continente seria só uma conseqüência.

O destino foi a Catalunha e o número estampado no manto azul e grená a vestir era oito. Foi amor a primeira vista, já que, além das já conhecidas virtudes do craque, ele também se identificou ideologicamente com os novos ares. Não que os catalães fossem ainda aqueles radicais separatistas dos anos Franquistas. Nesse momento, a ideologia era resumida em duas doutrinas: ódio a Madri e amor ao povo do meio do Mediterrâneo.

As duas premissas eram seguidas fielmente pelo jogador. Às vezes o ódio descambava para postura longe do politicamente correto e para expulsões, mas o amor nunca era nocivo à população local. A imagem do atacante inspirava torcida e companheiros a superar limites, alcançando feitos nunca antes obtidos.

O título mais cobiçado do Continente foi o mais extasiante deles. O Camisa Oito foi o destaque da primeira conquista da Copa dos Campeões da Europa do tradicional Football Club Barcelona. Isso não foi devido somente à sua habilidade, mas também à sua capacidade de evocar no time uma postura animalesca, faminta, que, anteriormente, somente ele possuía.

Os companheiros de seleção búlgara não estavam imunes a essa contaminação. Na Copa do Mundo disputada em território Norte-Americano, na qual um certo Baixinho brilhou, Hristo e sua seleção nacional chegaram ao inédito jogo semifinal, onde foram contidos pela Azurra de Roberto Baggio.

Stoichkov foi o artilheiro da competição, esbanjando seu estonteante futebol. A postura dionisíaca do líder era também vista em todos os outros atletas de seu time. Em caso de troca no time, no momento que o reserva avistava a placa de substituição, incorporava também aquela paixão Stoichkoviana.

Após esses grandes feitos, Hristo Stoichkov foi considerado o maior futebolista da História de seu país. Entretanto, tal condecoração não teve como causa a sua simples maneira de jogar. Ao adentrar os gramados, ele fazia sua História. Não importava o quão antagônico era o momento, qual fora seu passado ou quem eram os adversários. Através da paixão que possuía e da ferocidade com a qual lutava, ele deixava por terra todo determinismo, demonstrando àqueles que o assistiam que o futuro é uma conseqüência direta do que se faz do presente.

Por Helcio Herbert Neto

domingo, 5 de dezembro de 2010

Lá se vai um ano...



Flamengo Campeão Brasilerio de 2009

Fora um ano quadrado, de imutáveis e aparadas arestas.A rotina massacrante desgastara a massa parda que ocupava o território de São Sebastião.Tudo conspirava para que o período natalino fosse apenas um prenúncio de mais um ano seco,quente e comum.Tudo,não todos.

Foi quando no primeiro fim de semana de Dezembro, algo ocorreu.O povo muniu-se de uma armadura rubro-negra e lotou o Coliseum tupiniquim até transbordá-lo,levando aquele espírito a todas as ruas do subúrbio,contaminando até mesmo as nobres castas moradoras das regiões litorâneas do sul.

Inevitável seria a explosão daquela mistura entre a mulata tonalidade da pele daquele povo e o quente sangue, resultado do calor dos trópicos. No entanto, seria aquele o dia?Seria aquele o momento em que o processo químico chegaria a derradeira conseqüência?Cegos céticos cerravam suas esperanças, negavam o futuro claro que estava diante seus olhos.

Deu-se início ao processo. Um tal guerreiro tricolor,que sobrevivera aos Farrapos e aos Aflitos, tentava conter o momento de plenitude anunciado.Naquele dia não.Chega de sofrimento,chega de dor.E em um golpe fatal de gladiador nordestino,soaram as liras do paraíso.

A emoção foi capaz de fazer o Imperador chorar. A partir de então, a vitória era daqueles soldados do dia-a-dia, dos súditos que necessitavam daquela faísca luminosa de felicidade. Os bares lotaram em uma cerimônia hermética. Obviamente, o Deus do carnaval despejou confetes e euforia naqueles joões.

Um jovem desavisado de 17 anos , que mesmo não compreendendo,vivenciou tudo aquilo. Um sentimento incomum que a massa denominou alegria.

No dia seguinte restou-lhe apenas uma tosse rouca,uma voz seca e a certeza de que a vida valia a pena.

Por Helcio Herbert Neto

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Anacrônicas Desportivas: Erro de Batismo


Romário Leiria de Moura, por enquanto.


Meus caros amigos, essa seleção sub-20 promete. A lista inicial conta com diversos nomes conhecidos, como o Prodígio da Vila Neymar e o Príncipe de Milão Philppe Coutinho. Entretanto, um nome me chamou a atenção nessa pré- lista divulgada pela equipe da CBF formada por Mano Menezes e Ney Franco.

Não se trata do atacante de personalidade Diego Maurício, do Rubro-Negro carioca, ou do Lucas, o antigo Marcelinho do Time do Morumbi. Um zagueiro, que por muito pouco não passa despercebido, é o motivador desse texto. Seu nome é Romário e joga, atualmente, no time B do Internacional de Porto Alegre.

Sim, leitor, você entendeu bem. Um zagueiro com nome de centro-avante. E não é de um simples centro-avante, é do melhor de todos os tempos. Um defensor alto e branco, que mais parece um russo, com a mesma graça de um anão brasileiríssimo nascido na Favela do Jacaré. Esse antagonismo me fez pesquisar no Mundo Virtual alguma informação sobre o atleta, alguma coisa que o caracterize, que o configure. Mas consegui apenas uma foto.

Nunca o vi em ação. Aliás, nunca havia ouvido falar sobre ele até a apresentação de semana passada. Diferentemente desses catedráticos que aparecem na TV falando de futebol, eu não tenho o menor pudor em dizer. Aliás, nada vi sobre esse jogador na imprensa. Pobres editores, perderam uma grande pauta.

Dessa maneira, antes dos jogos do Campeonato Sul-Americano, antes dos treinos e até mesmo antes da apresentação da garotada, já tenho um conselho para o técnico Ney Franco. Se esse jogador realmente excursionar com a Seleção, é de extrema necessidade apelidá-lo. Nada contra o menino, muito menos contra o nome dado pelos pais. Na verdade, por mais eficiente que ele seja, até que ele seja uma mistura de Beckenbauer com Domingos da Guia, esse nome não pode ser levado ao uniforme.

Explico. Na hora em que esse rapaz vestir a Amarelinha com esse nome, ele irá direto para o ataque. Pode parecer inacreditável, mas é verdade. Os Deuses da Bola estão loucos para rever um Romário no ataque, marcando gols, calando críticos. O pobre zagueiro abandonará involuntariamente a zaga, como um ventríloquo dessas sarcásticas divindades.

Excetuando esse erro de Semiótica, acredito no potencial dessa equipe. Seria muito positivo ganhar a Olimpíada, em Londres, para começar a expurgar fantasmas de nossa História Futebolística. Começando assim, poderemos percorrer um caminho livre até enfrentar o maior deles: o Maracanazo.

Por Helcio Herbert Neto