terça-feira, 10 de março de 2015

Avelinos e Marinhos

A história de Avelino é rememorada por Daniel Aarão Reis no livro "Luís Carlos Prestes - Um revolucionário entre dois mundos". (Reprodução)

As recordações de símbolos populares se esvaecem, de maneira geral, entre os habitantes do território brasileiro. Principalmente fatos e versões ocorridos longe do Centro-Sul. Heróis de outrora ficam renegados aos livros empoeirados ou aos distantes círculos acadêmicos. Quando muito, movimentos, personagens e datas marcantes ganham uma medalha de honra ao mérito; entram em placas de nomes de rua, viram praças, mas não são revividos pelas gentes concidadãs.

Avelino Clementino de Barros. O nome não é reconhecido pela maioria da população brasileira. Ajuda pouco no ato de rememorar se for recordada sua profissão: músico, de um regimento de infantaria de Natal. No entanto, Avelino foi preponderante no levante de novembro  de 1935, um episódio marcante da República. Na década de 1930, apesar da esperança motivada pela chegada de Vargas à presidência, muitas das reivindicações populares ainda eram negligenciadas.

Para agravar a situação, o presidente pôs em vigor a Lei de Segurança Nacional, que intensificou a repressão aos opositores do regime. O quadro de ebulição culminou na insurreição capitaneada por Avelino, em Natal. Posteriormente, Luís Carlos Prestes e o Partido Comunista evocaram as rédeas do movimento, fazendo eclodir rebeliões também no Rio de Janeiro. Nome mais imponente no cenário político nacional, Prestes ficou reconhecido como o líder daquela que ficou conhecida como a Intentona Comunista.

Sem a atitude de Avelino, contudo, as reivindicações não teriam voz. Entre tantas atribuições, cabe também ao jornalismo, mais especificamente aos repórteres, trazer à luz essas histórias. E, nessa tarefa, não há restrições de editorias: existem instantes decisivos na Economia, na Cultura, na Política, na Cidade, no Esporte. Muitas vezes, os personagens são próximos e acessíveis, embora negligenciados. Como o músico de Natal, capaz de mobilizar insurretos.

É em busca de tal resgate que o livro "A Bruxa e as vidas de Marinho Chagas" se projeta. Figura muito presente da mesma Natal de Avelino, a proximidade do ex-lateral da Seleção Brasileira acabou sendo naturalizada, quase vulgarizada. A reação de quem ficava perto do antigo atleta do Botafogo tinha relação com os rumos que Marinho tomara durante as últimas décadas de sua vida. Por mostrar os becos onde o jogador se meteu, a obra é um mergulho na sombria vida dos ex-atletas.

A decadência dos últimos dias, contudo, não faz por desmerecer o trabalho de elucidação das glórias de Marinho Chagas. A fugaz ascensão no futebol nordestino, as inebriantes jogadas ofensivas do suposto defensor, e o reconhecimento internacional pelo atrevimento estão presentes, ao longo das páginas do livro. Ali também estão outras tantas passagens escondidas: a reverência de Bob Marley ao jogador, durante uma turnê do Náutico na América Central, figura entre as mais divertidas.

Embora incomparáveis em amplitude, ambos os casos suscitaram empatia dos potiguares. Em suas respectivas áreas, Avelino e Marinho foram importantes para a vida da capital do Rio Grande do Norte. Em um momento político em que parcela da sociedade brasileira questiona a participação política e social de nordestinos e suas opções eleitorais, é necessário que as jornadas épicas do atrevido atleta e do obstinado militante voltem à tona, rebatendo históricos preconceitos.
Por Helcio Herbert Neto.                                                                 
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário